A
Química do Cabelo
Mal começa o dia e já
tentamos arrumá-los, diante do espelho. Uns o querem mais
lisos, outros, mais cacheados. Muitos, ainda, lutam para não
perdê-los. O QMCWEB desta semana fala sobre o cabelo,
a moldura de nosso rosto. Do que é feito, como interage
com os xampus e com os condicionadores, de que maneira ele pode
ser moldado, colorido e alisado pela adição de alguns
compostos químicos.
O
cabelo é consituído, basicamente, de uma proteína:
a alfa-queratina. As queratinas (alfa e beta) são,
também, consitituintes de outras partes de animais, como unhas,
a seda, bicos de aves, chifres, pêlos, cascos, espinhos (do porco-espinho),
entre outros.
Em
cada fio de cabelo, milhares de cadeias de alfa-queratina estão
entrelaçadas em uma forma espiral, sob a forma de placas que
se sobrepoem, resultando em um longo e fino "cordão"
protéico. Estas proteínas interagem fortemente entre si,
por várias maneiras (veremos adiante), resultando na forma característica
de cada cabelo: liso, enrolado, ondulado, etc..
 A
raiz de cada fio capilar está contida numa bolsa tubular
da epiderme chamada folículo capilar. Estima-se que existam
cerca de 5 milhões de folículos capilares no corpo
humano. As únicas partes da pele que não têm
folículos são as palmas da mão e as solas dos
pés. O fulículo recebe irrigação na
epiderme e, algumas vezes, pode apresentar disfunções,
levando ou ao crescimento excessivo de cabelos (ou pelos) ou à
queda de cabelos, um problema enfrentado por boa parte da população.
A queda de cabelos é mais frequente nos homens, e estudos
indicam que ela está associada à testosterona.
Este hormônio é convertido, por uma enzima encontrada
nos folículos, em dihidrotestosterona
(DHT), que é capaz
de
se ligar a receptores nos folículos. Segundo Dr. Richard
S. Strick,
um dermatologista na University of California em Los Angeles, "this
binding can trigger a change in the genetic activity of the cells,
which initiates the gradual process of hair loss". |
números
|
>um
adulto tem cerca de 150 mil fios de cabelos na cabeça;
> O número total, incluindo todos os pêlos, chega
a mais de 1 milhão;
>o cabelo cresce cerca de 2cm por mês;
> apenas 3 meses após a fecundação, os primeiros
fios de cabelo já nascem no feto; |
A cor do cabelo
vem de pigmentos, como a melanina, que são agregados ao cabelo
a partir do folículo capilar, o aparelho que é responsável
pela produção do mesmo. Em geral, a cor do cabelo está
relacionada à cor da pele: pessoas com pele escura tendem a ter
cabelos escuros, e vice-versa. Isto porque a pigmentação
do cabelo depende da quantidade de melanócitos presentes.
Uma
proteína é uma sequência de amino-ácidos,
um polipeptídeo. A queratina é formada por cerca
de 15 amino-ácidos diferentes, que se repetem e interagem
entre si. Na conformação alfa,
cada cadeia polipeptídica enrola-se sobre si mesma, no
formato de uma hélice (como uma escada de caracol). Na
conformação beta,
as cadeias ficam semi-estiradas, dispostas paralelamente. A figura
ao lado ilustra a proteína G,
que apresenta as duas conformações: alfa, em lilás,
e beta, em amarelo. As ligações intramoleculares
entre os aminoácidos da mesma cadeia é que sustentam
a configuração da cadeia. Entre os tipos de interação,
destacam-se as pontes de hidrogênio e as pontes cistínicas,
que são as pontes formadas entre os grupos -SH do amino-ácido
cistina, presente na queratina.
|
Como
se faz o cabelo "Permanente" ?
Um
dos amino-ácidos presentes na queratina é a cisteína,
responsável pelas ligações cisteínicas.
A cisteína, RSH, pode interagir com outra cisteína da
mesma cadeia polipetídica, e formar uma ligação
convalente, RSSR. Estas ligações são responsáveis
pelas "ondas" que aparecem em nossos cabelos. A possibilidade
da interconversão entre as formas oxidadas (RSSR) e reduzidas
(RSH) da cisteína é que permite ao cabelereiro "moldar"
o seu cabelo, ou seja, alisar um cabelo crespo, ou fazer "cachos"
e "ondas" em um cabelo liso.
A
primeira etapa consiste na redução de todos os grupos
RSSR. Isto se faz, geralmente, com a aplicação do ácido
tioglicólico (também conhecido como ácido 2-mercaptoacético)
em uma solução de amônia (pH 9). Esta solução
reduz os grupos RSSR para RSH. thioglycolic acid (also known as 2-mercaptoacetic
acid) in an ammonia solution (about pH 9) reduces RSSR to RSH (os cabelereiros
chamam esta solução de "relaxante").
A segunda etapa consite em imprimir no cabelo a forma desejada: lisa
ou ondulada. Após se lavar toda a solução de ácido
tioglicólico e se enrolar ou esticar o cabelo, o cabelereiro,
então, oxida os grupos RSH para RSSR, com a aplicação
de um agente oxidante, tal como o peróxido de hidrogênio
(H2O2, água
oxigenada) ou borato de sódio (NaBrO3)
(os cabelereiros se referem a esta solução como "neutralizante").
O novo padrão imposto, então, dura até o crescimento
do cabelo, quando será uma nova visita ao salão.
Como
o cabelo pode ser colorido?
Existem,
basicamente, 2 métodos: o primeiro consiste na incorporação
de pigmentos na formação do fio de cabelo. Este processo
é lento e, em geral, é feito com pigmentos naturais, tais
como o encontrado na henna ou na camomila. Devido ao uso constante,
em xampus e/ou condicionadores, estes pigmentos começam a fazer
parte dos novos fios de cabelos formados.
O segundo método é a pintura imediata do cabelo, com a
destruição dos pigmentos (descoloração)
já existentes nos fios, e a incorporação de novos
pigmentos. O processo de descoloração é ainda feito,
na maioria das vezes, com peróxidos ou amônia, embora ambos
os produtos sejam tóxicos. Um dos pigmentos mais utilizados,
na coloração, é o acetato de chumbo, embora também
seja tóxico.
As
indústrias investem muito em pesquisa nesta área. Recentemente,
a americana L'Oréal chegou a uma solução
original para o tratamento de cabelos grisalhos: desenvolveu um produto
a base de dihidróxido-5-6-indol, um precursor natural
da melanina, o principal pigmento do cabelo. A figura ao lado ilustra
o indol, o reagente de partida para a síntese do produto
da LÓréal.
Como
agem os xampus e condicionadores?
Ambos
possuem, em sua formulação, moléculas de surfactantes.
O QMCWEB já fez uma aula
virtual sobre surfactantes. Os xampus e condicionadores diferem,
basicamente, na carga do surfactante: os xampus contém
surfactantes aniônicos, enquanto que os condicionadores têm
surfactantes catiônicos. Quando o cabelo está sujo,
ele contém óleo em excesso e uma série de partículas
de poeira e outras sujeiras que aderem à superfície
do cabelo. Esta mistura é, geralmente, insolúvel em
água - daí a necessidade de um xampu para o banho.
O surfactante
ajuda
a solubilizar as sujeiras, e lava o cabelo.
Um problema surge do fato de que surfactantes aniônicos formam
complexos estáveis com polímeros neutros ou proteínas,
como é o caso da queratina. O cabelo, após o uso do
xampu, fica carregado eletrostaticamente, devido a repulsão
entre as moléculas de surfactantes (negativas) "ligadas"
à queratina. É aí que entra o condicionador:
os surfactantes catiônicos interagem fracamente com polímeros
e proteínas neutras, e são capazes de se agregar e
arrastar as
moléculas
de xampu que ainda estão no cabelo. Nos frascos de condicionadores
existem, ainda, alguns produtos oleosos, para repor a oleosidade
ao cabelo, que foi extraída com o xampu.
O cabelo, após o condicionador, fica menos carregado e, ainda,
com mais oleosidade.
Segundo este critério, não existe xampu "2
em 1", ou seja, uma formulação capaz de conter
tanto um surfactante aniônico como um catiônico. Os
produtos encontrados no mercado que se dizem ser "xampu 2 em
1" são, na verdade, xampus com surfactantes neutros
ou, ainda, surfactantes aniônicos com compostos oleosos, que
minimizam o efeito eletrostático criado pelo xampu normal.
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